sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

dignidade perante toda a emoção, ou falta dela.




«O tédio é pior que a angústia, é mesmo o contrário, quando se está angustiado não se sente tédio; e assim eu passava do tédio à angústia, da angústia ao tédio. Não, já não sinto tédio, não, não pode ser mais nada! Se bem que, lá no fundo, sinta que ela me espreita, me ameaça, e que me pode muito bem vir a crescer, a envolver-me, a atabafar-me. Ah, mas não, o mundo tem imenso interesse, imenso. Basta olharmos. Há gente que se contenta em olhar para as árvores, em passear. Aconselharam-me a passear. Mas esses passeios eram mais entediantes que o próprio tédio, mais tristes do que a tristeza. Oxalá que eu não torne a afundar-me no abismo do tédio. Olhar atentamente em redor, para o mundo; com a maior da atenções. Despi-lo da sua "realidade", lutar por experimentar, a cada passo, o espanto original.» 

Eugène Ionesco, "O Solitário"



[ às vezes não interessa mudar, interessa aceitar.e aceitando, é deixar andar...]



Um comentário:

JP disse...

Aceitar pode ser mudar...nunca deixar andar.

O tédio versus angústia. Nem sei qual prefiro. Não gosto da angústia....


(Contém um beijo)